terça-feira, 8 de setembro de 2009

ALIIFE HIP HOP

CERÂMICA CADIUÉU

Referência Bibliográfica:
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Os Caduveos livro escrito há 108 anos por Guido Boggiani, 1861-1902, italiano erudito - músico,
pintor e desenhista. Relata seu convívio com os indígenas abordando aspectos da região: flora, fauna,
usos e costumes.
Coleção Reconquista do Brasil publicada pela Livraria Itatiaia Editora em colaboração com a Editora da Universidade de São Paulo (1975).
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Arte dos Índios Kadiuéu, de Darcy Ribeiro.
· Programa Globo Rural de 10/06/01. (TV)

Os índios Cadiuéu ou Kadiuéu são descendentes dos famosos Mbaya-Guaicurus, "Índios Cavalheiros do Pantanal", famosos no passado por terem sido excelentes guerreiros. Nos conflitos escondiam-se no dorso dos cavalos para iludir os inimigos, fazendo-os crer que os animais estavam sem montaria. Destacaram-se pela tenaz resistência, imposta aos espanhóis e portugueses, em conflitos na bacia do rio Paraguai quando da colonização do Brasil.

A região em que vivem situa-se na serra da Bodoqueira, entre Bonito e Jardim, no Mato Grosso do Sul, num território de 100 mil hectares. Suas principais atividades são a criação de gado, a agricultura de subsistência, a caça, a pesca e o artesanato.

Os Cadiuéu são muito admirados pelo excelente trabalho que realizam com o barro, principalmente no que se refere à decoração das peças. Aplicam desenhos geométricos com cores fortes - preto, vermelho, ocre, amarelo, branco, verde etc. Os corantes utilizados são naturais: minerais e vegetais da região.

A tarefa de modelar o barro é predominantemente feminina, como sempre acontece nas tribos indígenas.


Produzem objetos utilitários e decorativos: potes, panelas, jarros, moringas, placas e animais. Nos utensílios usados para cozer alimentos não é prática aplicar decoração.

As argilas são obtidas em diferentes jazidas da região. De algumas só se usa o barro, na forma de "engobe", para decorar
as peças com cores vivas e vibrantes.

No preparo da massa misturam à argila cacos de cerâmica já queimada, bem peneirados e moídos- "chamote"- com a finalidade de diminuir a plasticidade e melhorar a liga. Essa prática facilita o levantamento da parede da peça, sem o risco de haver desmoronamento e rachaduras e diminui o encolhimento durante a secagem e na queima.

As peças, depois de prontas, são deixadas secar ao ar livre, por muitos dias, antes de serem cozidas. As queimas não são feitas em fornos e sim em fogueiras a céu aberto.

A lenha preferida é de angico, bem seco, que dá fogo vivo e forte.

A modelagem das peças é realizada sem o uso do torno. O processo utilizado é o de cordões de barro, também conhecido como cobrinhas ou roletes. As paredes são levantadas, cordão por cordão, alisadas, interna e externamente, com o auxílio de uma ferramenta improvisada que pode ser um osso, uma pedra ou outro objeto. Os
Cadiuéu são exímios nesta técnica, chegando a confeccionar jarras de um metro de altura, com excelente perfeição de forma.


São muitas as variedades dos desenhos ornamentais aplicados nas peças. Os modelos são guardados como tradição familiar vinda da mãe, das avós, das tias etc. São riscos à mão livre, traçados com o auxílio de um cordão feito de gravatá, formando sulcos na superfície da peça. São linhas retas, curvas, paralelas, degraus de escadas, espirais, ornatos em ziguezague e outras variantes.

A decoração é feita com pigmentos naturais de cores fortes. O verde é obtido de uma argila, com esta coloração, cuja jazida situa-se no meio de uma mata fechada. A tonalidade esverdeada certamente origina-se da decomposição, através dos tempos, de vegetais do local. Os tons amarelos e os brancos são obtidos de argilas encontradas na beira de córregos. O tom vermelho e o ocre obtêm-se de barro rico em óxido de ferro. O preto é obtido da resina da árvore, Pau Santo. O processo consiste em ferver, num recipiente, lascas, já secas, do tronco do vegetal. Com a ebulição da água, sobe uma resina para a superfície na forma de bolinhas, parecendo graxa. O material é então retirado, aos poucos, com um bastãozinho de madeira e introduzido num recipiente, com água fria, para endurecer. O processo vai se repetindo até que se seja formado um bastão.

As argilas usadas como pigmentos na decoração "engobes" são primeiramente limpas, retirando-se todas as impurezas. Depois são postas a secar para, em seguida, serem amassadas, moídas e peneiradas. No momento de aplicá-las na peça, elas devem ser diluídas em água, para adquirirem uma consistência pastosa. Não são usados pincéis. Os corantes são passados com os dedos. Para que a impregnação das cores ocorra eficientemente, deve ser realizada após o término da queima, com a peça ainda bem quente.

A primeira cor a ser aplicada é a preta, que exige uma maior quantidade de calor na peça. Faz-se passando o bastão, obtido do Pau Santo, nas áreas escolhidas. Como resultado, tem-se impressão semelhante à do verniz industrial, pois surge um tom forte e brilhante.

Os sulcos são sempre pintados de branco, tonalidade que, visualmente, melhor delimita o contraste das áreas decoradas. Exemplo: uma superfície preta é separada de uma ocre por um sulco de cor branca.


Os desenhos gráficos dos Cadiuéu influenciam bastante os trabalhos de estilistas, pintores e outros artistas de Mato Grosso do Sul. Nas lojas de Campo Grande, capital do estado, é comum encontrar os mais variados objetos ostentando símbolos artísticos dos indígenas.

A fama dos grafismos dos índios Cadiuéu já chegou à Europa. Em 2000 o escritório "Brasil Arquitetura" de São Paulo, dirigido pelos arquitetos Marcelo Carvalho Ferraz e Francisco de Paiva Fanucci , venceu uma concorrência internacional para a recaracterização do bairro "Gelbes Viertel" em Hellesdorf, Berlim. Dentre as intervenções
adotadas uma foi usar, desenhos da índias, em azulejos para serem aplicados nas fachadas e saguões dos edifícios.
Com o apoio da FUNAI realizaram um concurso tendo sido selecionado
s seis trabalhos. Como remuneração a tribo recebeu direito autoral coletivo e as artistas premiadas, acompanhadas de um guia, visitaram a cidade e verificaram,
“in loco”
, a aplicação de sua arte em terras tão distantes.

Abaixo os azulejos que foram industrializados e aplicados no projeto em Hellesdorf.

Os mesmos tipos de desenhos geométricos usados na decoração das cerâmicas são aplicados na face e no corpo dos índios, homens e mulheres, nas festas e rituais.

Muito curioso é o hábito, moderno, das moças índias passarem batom nos lábios complementando, com muita beleza,
suas primitivas pinturas faciais.

Imprescindível para o conhecimento da cultura dos índios Cadiuéu é a leitura do livro ARTE DOS ÍNDIOS KADIUÉU,
de Darcy Ribeiro.

Pesquisa,texto e fotos: Renato Wandeck

2 comentários:

  1. Gostei muito deste conteúdo, muito interessante. Aproveitarei e mostrarei os desenhos feitos nos azulejos para os meus alunos na aula de artes do 5º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal de Rochedo-MS.
    Prof. Marcos Larréia

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  2. Parabéns Alifer sua pesquisa ficou excelente, continue assim desenvolvendo seus trabalhos com eficaz.bjos

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